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Novo trabalho do Planta e Raiz, do vocalista Zeider Pires (ao centro) é um projeto duplo/ Foto: Divulgação |
Com 15 anos de carreira, a banda de reggae Planta e Raiz está lançando seu oitavo CD intitulado Bora Viver/ De Sol a Sol. Apesar das mais de 500 mil cópias vendidas co todos os álbuns, o vocalista Zeider Pires, acredita que o ritmo ainda tem muito a crescer. Abaixo você confere a entrevista completa que ele concedeu ao blog do Caio Fiusa. Nela, Zeider comenta a situação atual do Reggae no Brasil, critica a ausência de algum representante do estilo musical no Rock in Rio e fala sobre preconceito.
Caio Fiusa: Como você vê o reggae hoje no Brasil?
Zeider Pires: O Reggae está crescendo
muito, as bandas estão se profissionalizando, fazendo os trabalhos com a
melhor qualidade possível. As mídias estão começando a notar que não é
um estilo que só fala de droga e coisas nada a ver, mas sim da
libertação, do espírito do homem e de Deus. As pessoas estão começando a
assimilar agora. Então, daqui pra frente vai crescer cada vez mais.
CF: Esse sábado foram comemorados 32 anos da morte de Bob Marley. Qual a importância dele para quem curte o Reggae?
ZP: A morte dele, tão jovem ainda, com 36 anos, ao mesmo tempo que interrompeu uma vida, deixou um legado riquíssimo para os outros. São várias mensagens. Os olhos do mundo inteiro se voltaram para a Jamaica. Ele foi um divisor de águas. A partir disso, todo mundo valorizou a arte, mas ao mesmo tempo foi uma perda irreparável.
CF: Você acha que é possível surgir outro fenômeno no Reggae como Bob Marley?
ZP: Acredito que sim, mas enquanto as pessoas focarem no parâmetro, no padrão Bob Marley não vão conseguir. Bob Marley foi só um. Existem várias bandas muito boas pelo mundo. O que dificulta é mais o lance da mídia mesmo, em popularizar, botar para tocar em rádio. É um som massificado no mundo inteiro, mas não tem uma popularização regional. Nas regiões, o Reggae é mais underground, mas se juntar o que rola em todo o mundo, fica um negócio muito grande. Existem vários paradoxos aí. No próprio Brasil, temos bandas muito grandes como Natiruts e Ponto de Equilíbrio, o Cidade Negra bombou e foi uma das maiores nos anos 90 e tem o SOJA representando no mundo também.
CF: Você citou o SOJA, que hoje talvez seja uma das maiores bandas de Reggae. Você acha que eles podem elevar o Reggae a outro patamar?
ZP:
Acho que eles têm a vantagem de cantarem em inglês, terem crescido em
uma estrutura maneira. A cultura americana insere a música desde o
começo. Quem quiser ser músico, vai ser. Tem essa vantagem de ser
primeiro mundo, mas vejo que o movimento não para de crescer e isso não é
em decorrência só deles. Todas as bandas que estão lutando, estão sendo
o alicerce para trazer o reggae para cima.
CF: Você falou sobre a mídia. Ela atrapalha ou ajuda?
ZP: Quem faz o Reggae, faz porque ama. Quem vai aos shows, cola com a gente, vai porque ama. Acho que a mídia atrapalha com as músicas banais e sujas e atrapalha também o reggae em si, porque desvia o foco da molecada.
CF: E a questão das drogas? O Reggae ainda sofre muito preconceito?
ZP: Preconceito é de quem não tem informação. Quem escuta a música e presta atenção, vê que é algo muito maior, se comunica com todo tipo de gente. O Reggae fala com aquele cara que está procurando um caminho, com um pai que quer educar o filho, a galera tem que parar para pensar antes de sair falando.
CF: Falando sobre preconceito ainda, existe algum com a galera que curte o surf music, por exemplo, ou até mesmo algum outro?
ZP:
Mano, acho que toda tribo tem um momento de ser radical. Aquela hora que a pessoa diz: eu curto reggae, não vou ouvir samba. Isso é
imaturidade das pessoas. Uma hora as pessoas crescem e vão ver o que é
música boa e o que é ruim.
CF: Queria que você falasse agora do novo CD...
ZP: Esse disco foi gravado em nosso próprio estúdio, produzido por nós mesmos e mostra a nossa independência. Assumimos o comando da nave e estamos dando continuidade. O disco é bem abrangente, pega várias vertentes, tem tudo para o público. A evolução é isso, abrir a mente. Somos brasileiros e temos vários ritmos, então pegamos o Reggae e juntamos com os sons que a galera curte.
CF: Na música Cante a paz, vocês fazem uma crítica social, a respeito da violência. Acha que a música perdeu isso?
ZP: Acho que não. São momentos que você vivi e se depara. Não dá para você ficar toda hora falando do mesmo assunto, vai soar estranho. No caso dessa música que eu compûs em 2000, eu tinha chegado do ensaio e estava rolando umas imagens de guerra na televisão. Aí eu comecei a chorar de raiva, peguei o violão e fiz. É questão de momento, tem hora que você está amando e vai falar de amor. Não pode ter barreira para o que vai ser comunicado. Não importa se você sente amor, importa se ela é verdadeira.
CF: Você fez uma parceria com o Chorão, do Charlie Brown Jr, em Gueto do Universo. Como estava a relação de vocês antes da morte dele?
ZP: A gente se trombava muito pela estrada e pelos camarins. Fazia tempo que a gente não se via, não se encontrava. Chorão era um grande cara. Infelizmente mais uma perda, mais uma história interrompida.
CF: O Rio de Janeiro vai receber este ano o Rock in Rio, um grande festival internacional e o reggae não está representado. O que pensa sobre isso?
ZP: Isso aí é maior panela. Esse Rock in Rio aí virou uma fábrica de dinheiro. É um negócio lindo e maravilhoso, mas infelizmente está vindo muito gente do pop. Isso foge do parâmetro do festival, mas tudo bem, a gente continua trabalhando e quem sabe um dia estaremos lá também.
CF: Para terminar, queria que você dissesse qual a peculiaridade do Reggae?
ZP:
O Reggae é uma música que eleva, que vem para unir, para alertar e para
libertar. Nunca você vai ouvir um reggae estimulando a violência, alguma
coisa ruim. É uma música que traz as coisas boas para perto e fala de
evolução.
Entrevista realizada quinta feira 09/05, por telefone
Contato: fiusa.caio@gmail.com
Contato: fiusa.caio@gmail.com
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