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Igor Coronado acumula prêmios e títulos nos Emirados Árabes Unidos./Foto: Arquivo Pessoal |
Ao longo das últimas décadas, o Brasil tem se consolidado como o maior exportador de jogadores de futebol. Mais recentemente, tornou-se comum ver atletas brasileiros defendendo clubes, em maioria, europeus, sem antes terem disputado uma partida pelo profissional em território nacional. O olhar dos times do Velho Continente tem sido direcionado cada vez mais para os jovens talentos, ainda em formação.
Assim como muitos jovens brasileiros, Igor Coronado, natural de Londrina, no Paraná, sempre gostou de jogar futebol. Porém, a história do jogador no futebol europeu começou por outro motivo.
- Eu fui para a Inglaterra aos 14 anos porque meus pais buscavam trabalho lá, um futuro melhor para nós. Como eu sempre joguei futebol, na escola e nos clubes amadores, surgiu a oportunidade no MK Dons e fiquei lá até os 19. No último ano, eu já ia com os profissionais para os jogos, mas mudou o treinador, que preferia jogadores mais altos, com mais força física e aí, acabei saindo. Mas a minha adaptação lá foi muito boa.
Para Igor Coronado, o período de cinco anos no Reino Unido foi importante para formá-lo como atleta e também como pessoa. Ele lembra de particularidades da cultura na categoria de base inglesa, diferentes em relação à brasileira.
- A diferença que vejo é que eles trabalham muito sério. Eu era o camisa 10 do juvenil e tinha que limpar as chuteiras do camisa 10 do profissional. Os nossos treinamentos eram no mesmo horário, para que quando terminassem, a gente guardasse todo o material. Nós preparávamos os treinos deles e já tivemos que limpar o estádio. Na época, eu não entendia o porquê disso, mas hoje dou muito valor. Isso me fez crescer como pessoa.
Depois do período em solo britânico, Igor rumou para a Suíça e foi fazer teste em um clube da segunda divisão, o Winterthur. Lá, fez alguns amistosos, mas não foi aproveitado pelo treinador, que o indicou ao Grasshopper, maior campeão nacional, onde assinou por seis meses com o time sub-21.
Como o clube estava em uma situação difícil na Liga, disputando para não ser rebaixado e ao terminar a temporada, com a permanência garantida, a direção promoveu uma reformulação em seu staff. Com isso, Igor Coronado não teve oportunidades no profissional e acabou migrando para Malta.
O jogador teve uma passagem de três temporadas pelo Floriana. Embora o arquipélago europeu, de poucos mais de 400 mil habitantes, apareça no top-10 das ligas internacionais com maior número de jogadores brasileiros, segundo estudos anuais do CIES Football Observatory, para Igor Coronado o futebol local precisa evoluir fora das quatro linhas, principalmente em relação a um problema bem conhecido no Brasil.
- É um país difícil de crescer profissionalmente. Como eu estava sem clube, acabei aceitando. Para o jogador que vai para lá, é bom para aparecer e tentar a transferência para outro clube. Eles recebem muito bem e gostam dos brasileiros. O futebol tem crescido, mas precisa melhorar fora de campo, como por exemplo, parar de atrasar salários.
Boas temporadas por rivais italianos
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Igor Coronado teve boas temporadas na Itália, especialmente no Palermo./Foto: Arquivo Pessoal |
De Malta, onde foi eleito o melhor jogador estrangeiro em 2013, conseguiu uma transferência para a maior ilha do Mar Mediterrâneo, a Sicília, e foi defender o Trapani, clube da segunda divisão italiana. Foi no novo clube que Igor passou por uma história curiosa, a qual lembra até hoje, junto com o treinador Serse Cosmi, muito conhecido no país pela forma de gesticular e gritar à beira do gramado.
- É um treinador com um coração enorme, mas se transforma no dia do jogo. Uma vez, estávamos vencendo por 3 a 1, eu fui tentar dar um chapéu e perdi a bola. O adversário fez o gol e o Serse entrou uns 15 metros no campo me xingando, falando que ia me matar e foi expulso (risos). Aí eu pensei ''complicou para mim''. Pouco tempo depois, consegui dar um assistência e fizemos o 4 a 2. Ele (Serse Cosmi) viu de longe e ficou muito feliz. No final do jogo, veio me abraça e pedir desculpas, mas naquele dia fiquei com medo (risos).
Igor disputou duas temporadas pelo Trapani como meia ofensivo em um esquema 3-5-2 e acumulou 19 gols em 77 jogos. O bom rendimento foi recompensado com uma oferta do rival local, o Palermo, que também estava na Série B e a 115km de distância. Porém, a saída não foi muito bem aceita pelos tifosi do Granata.
- Lógico que os torcedores não ficaram felizes, existe uma rivalidade, mas tiveram que aceitar porque a proposta foi muito boa para o clube.
Mais uma boa temporada e mais um convite para mudança de ares. Dessa vez, o desafio era maior, da Europa para o Oriente Médio, região famosa pelos altos investimentos no futebol. Igor Coronado desembarcou nos Emirados Árabes Unidos como novo reforço do Al Sharjah para a temporada 2018/19. No novo clube, passou a atuar como segundo atacante, mais próximo do gol e com mais liberdade.
Nova posição e muitos gols na conta
O jogador se adaptou bem à nova função e em 32 jogos, anotou 19 gols, ajudando a equipe a ser campeã da liga nacional e sendo eleito o melhor estrangeiro da competição. Os árabes ficaram conhecidos por agraciarem seus jogadores de destaque com prêmios luxuosos como carros, relógios, cheques, mas Igor Coronado acredita que isso tem mudado.
- Essa história dessas premiações, a gente sempre ouve falar e eu estou esperando isso ainda (risos). Acredito que essa época passou. Estamos aguardando é a premiação pelo título, mas eu não vou ganhar nada a mais que os outros jogadores.
Atualmente de férias, o jogador aguarda o reínicio da temporada nos Emirados Árabes Unidos. O primeiro compromisso do Al Sharjah, atual campeão da liga, é contra o Al Ahli, campeão da Copa do Presidente, no dia 13 de setembro, pela Supercopa dos Emirados Árabes. Mais uma oportunidade para Igor Coronado acumular títulos e premiações.
*Publicado em ogol.com.br em 05/07/2019
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