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O zagueiro quer ficar em Belgrado até o fim do contrato./Foto: fkcukaricki.rs |
Caio Fiusa:
Você chegou ao Atlético/PR em 2003, com 17 anos. Geralmente nessa
idade, o jogador já passou por um longo processo de formação e os clubes
esperam que o jogador já esteja quase pronto para ser lançado no
profissional. O que o
Atlético/PR acrescentou ao seu futebol?
Lucas Piasentin:
O Atlético/PR me ensinou principalmente posicionamento e como sair
jogando, a não dar chutões para frente. No primeiro ano de clube joguei
somente pelas categorias
de base. No segundo, já comecei a ingressar no profissional B, mas ao
mesmo tempo jogava pela base sempre que precisavam.
CF: E por ter aprendido a sair jogando sem dar chutões, chegou a atuar como primeiro volante?
LP: Em jogos não, as vezes em alguns treinamentos. Eu não gosto de jogar de costas para o campo e também como raramente treino nessa posição, o treinador não tem a confiança para testar no jogo.
CF: E o que faltou pra você ter uma sequência maior no CAP? Sair de lá foi uma opção sua?
LP: Nunca tive uma oportunidade no profissional do clube. Eu sempre fui titular na base, em todas as categorias, e em raras ocasiões perdemos algum campeonato. A minha saída aconteceu porque o meu contrato estava chegando ao fim e o ex-coordenador da base assumiu a do Fortaleza. Ele me fez o convite para jogar lá. Conversei com o coordenador do Atlético/PR e chegamos a um acordo que foi bom para todos.
CF: Aí depois do Fortaleza, você rodou por alguns clubes e chegou ao União, de Portugal. Você acha que por contar com muitos brasileiros, o futebol de lá acaba sendo um pouco parecido com o daqui?
LP: Lembra
um pouco mas tem as suas diferenças. Os brasileiros acabam se adaptando
ao estilo português, com isso, perdem um pouco das suas
características. Acho que no Brasil se joga de forma única, que não tem
como comparar ao estilo europeu.
CF: Qual a principal diferença na sua opinião?
CF: Qual a principal diferença na sua opinião?
LP: São
várias, mas pra mim, no Brasil, muitos jogadores jogam individualmente e
não ajudam os companheiros na parte defensiva. Na europa não. Voce vê
todos se ajudando tanto no ataque como na defesa. Aqui o jogo não tem
tantos dribles. É um jogo mais objetivo e com tabelas. Eu não vejo isso
no Brasil.
CF:
A gente vê muitos comentários e até dúvidas na imprensa e com os
torcedores, a respeito do treinamento físico. Vários jogadores que no
Brasil que são mais franzinos, ganham massa muscular
rapidamente na Europa. Isso fica mais evidente no caso de meias e
atacantes, como o Giuliano, que jogou na Ucrânia e agora está no Grêmio,
o Robinho e o Pato. É nítida a mudança no corpo desses
jogadores...Aconteceu isso com
você também? Percebeu alguma mudança no seu corpo? Como é o treinamento
físico europeu?
O acanhado Čukarički Stadion tem capacidade para 5 mil pessoas./ Foto: mozzartsport.com |
LP: Achei
um pouco mais intenso na parte de força. Eles dão muita ênfase nisso,
tentam levar lado a lado tanto a parte da resistência quanto a de força.
O futebol aqui é muito mais contato e os árbitros apitam de uma outra
forma. A obediência tática na Europa é fundamental também. Eles dão
muito valor a isso e ao jogo agressivo na bola. Muitos jogadores
enfrentam essa dificuldade na adaptação.
CF: Até falando sobre arbitragem, e aproveitando para
entrar no futebol sérvio..Eu vi que pelo União você jogou 37 jogos e
levou 18 amarelos. Já no FK Cukaricki foram 27 jogos e só 2 amarelos. A que
você atribui essa diferença nos números?
LP: (Risos) Em Portugal realmente eu tive um excesso de cartões por não saber como funcionava o estilo europeu. As vezes eu cometia uma falta e jogava a bola para cima para ganhar algum tempo. No Brasil é normal, já em Portugal e aqui na Sérvia, se você faz isso, recebe o amarelo. Atribuo essa diferença gritante à minha adaptação. Não sou um jogador violento e não recebo muitos cartões.
CF: No União você marcou 3 gols e no Cukaricki foram 2. Acredito que foram em jogadas de bola parada, certo? É um ponto mais explorado que no Brasil, as jogadas de bola parada?
LP: Isso, nos dois clubes os gols foram de cabeça, com a bola vindo de faltas laterais ou escanteios.
LP: (Risos) Em Portugal realmente eu tive um excesso de cartões por não saber como funcionava o estilo europeu. As vezes eu cometia uma falta e jogava a bola para cima para ganhar algum tempo. No Brasil é normal, já em Portugal e aqui na Sérvia, se você faz isso, recebe o amarelo. Atribuo essa diferença gritante à minha adaptação. Não sou um jogador violento e não recebo muitos cartões.
CF: No União você marcou 3 gols e no Cukaricki foram 2. Acredito que foram em jogadas de bola parada, certo? É um ponto mais explorado que no Brasil, as jogadas de bola parada?
LP: Isso, nos dois clubes os gols foram de cabeça, com a bola vindo de faltas laterais ou escanteios.
Muitos
jogos são definidos em bolas paradas. Pela obediência tática que os
europeus têm, as bolas paradas passam a ser mais que uma simples
oportunidade de gol, as vezes são a única forma de marcar um gol. Eles
sabem disso e dão muito valor.
CF: E no seu caso é somente no cabeceio ou assim como alguns zagueiros você também cobra faltas?
CF: E no seu caso é somente no cabeceio ou assim como alguns zagueiros você também cobra faltas?
LP: Eu
treino. Tenho um chute forte e tento marcar de longa distância. Todo campeonato aqui na Sérvia eles fazem uma
medição de quem tem o chute mais forte. O meu já chegou a 121 km/h, mas não fui o campeão.
CF: Sobre o clube, a temporada foi de retorno à elite e vocês conseguiram ficar em quinto lugar, a um ponto do Vojvodina, time que conseguiu vaga para a fase eliminatória da Liga Europa. Por vir da Segunda Divisão, esse resultado superou as expectativas do clube, diretoria, jogadores e torcida?
CF: Sobre o clube, a temporada foi de retorno à elite e vocês conseguiram ficar em quinto lugar, a um ponto do Vojvodina, time que conseguiu vaga para a fase eliminatória da Liga Europa. Por vir da Segunda Divisão, esse resultado superou as expectativas do clube, diretoria, jogadores e torcida?
LP: Infelizmente não conseguimos a vaga para a Liga
Europa, mas para a primeira temporada que retornamos a elite foi uma
classificação satisfatória. Quase ninguém acreditava que
conseguiríamos nos manter na elite. Nós jogadores, junto com a diretoria e os
verdadeiros torcedores, acreditávamos que seríamos capazes de chegar na
Liga Europa e quase conquistamos o nosso objetivo.
CF: E o que faltou pra garantir esses 2 pontos que dariam a classificação?
LP: Um
pouco de sorte e um pouco de experiência também. Acredito que todos do
clube ficaram contentes com a nossa classificação, nessa
próxima temporada brigaremos de novo pela vaga na Liga Europa.
CF: Você acha que isso é o máximo que um clube pode sonhar na Sérvia? Já que o título é monopolizado pelo Partizan e Estrela Vermelha e ambos ficam com as vagas na Liga dos Campeões?
LP: A princípio sim, mas o Čukarički está trabalhando em alguns projetos para poder ser um dos maiores clubes da Sérvia e entrar nessa disputa pelo título junto ao Partizan e o Estrela Vermelha. Espero que em um futuro próximo consigamos brigar de igual para igual com eles.
CF: Falando sobre esse ''dentro de campo'' que você disse. O clube é formado praticamente por sérvios. Atrapalha na comunicação? Eu sei que a linguagem do futebol é universal, mas como vocês fazem para se entender?
CF: Aprendeu até mesmo o alfabeto cirílico sérvio?
LP: Eu
consigo ler qualquer coisa e até consigo pronunciar corretamente, mas
não sei o significado das palavras ainda. Algumas coisas básicas eu já
aprendi.
CF: Qual a peculiaridade do futebol sérvio?
CF: Qual a peculiaridade do futebol sérvio?
LP:
A altura dos jogadores. Eu tenho 1.93 e no Brasil e em Portugal era
difícil encontrar muitos jogadores altos. Aqui é muito dificil encontrar
jogadores baixos (risos). Outra pecularidade é a velocidade dos
jogadores, além da forca física.
CF: Você já recebeu alguma proposta? Pretende ficar aí? Como está a sua situação?
LP: Sobre
propostas eu não sei, até mim não chegou nada. Eu gostei muito daqui.
Quero ficar o máximo de tempo possível. A minha familia se adaptou bem e
criei um vínculo com o clube muito bacana. Estou muito feliz.
CF: Você já recebeu alguma proposta? Pretende ficar aí? Como está a sua situação?
CF: Na Libertadores desse ano, tivemos um caso de
racismo com o Tinga, volante do Cruzeiro, que repercutiu bastante. Você já
presenciou algo semelhante aí na Sérvia?
LP: Eu soube disso e infelizmente
ainda acontece no futebol. Aqui não presenciei nada parecido, até porque,
se houvesse alguma ofensa a alguém, eu não entenderia.
CF: Eu queria que você comentasse o comportamento do torcedor sérvio.
LP: Os
torcedores são muito fanáticos! Tivemos um episódio em um jogo que houve confronto, cadeiras da arquibancada
sendo arrancadas e jogadas, por exemplo. A maior rivalidade fica entre Partizan e Estrela Vermelha.
Eles têm os estádios próximos e acho que isso causa ainda
mais brigas. Aqui eles podem levar bandeiras, cornetas, buzinas, bombas, para o estádio.
CF: E a rivalidade com os croatas? Acredito
que os torcedores tenham ficado desolados com a eliminação da seleção
para a Copa do Mundo do Brasil, ainda mais perdendo a vaga para a
Croácia.
LP: Pelo que me disseram, os croatas têm muito mais rivalidade com os sérvios do que o contrário. Dizem
que se você for visitar a Croácia em um carro com a placa daqui, é
perigoso. Eles podem destruir seu carro dependendo da cidade que você for.
Sobre a eliminação, eles ficaram muito chateados. Estávamos
concentrados, assistindo juntos e me lembro até hoje a reação deles. Com
certeza foi uma
sensação horrível para eles e para mim foi de tristeza também, pois
queria que
eles conseguissem a classificação. Eles têm uma boa equipe e gostaria de
vê-los na Copa.
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Lucas recebeu um bolo personalizado do clube no seu aniversário de 28 anos./ Foto: Arquivo Pessoal |
CF: Chegou a jogar junto ou contra algum jogador da seleção?
LP: Sim, alguns jogadores do Partizan e do Estrela
Vermelha que participaram do amistoso contra o Brasil. Já joguei contra
alguns deles durante o campeonato.
CF: Nesse tempo que está aí, alguma história que te marcou?
LP: Uma coisa que aconteceu que achei muito bacana foi no dia do meu aniversário. O
clube fez um bolo super bonito personalizado e uma matéria no jornal
me dando os
parabéns. Achei bem legal e foi uma coisa que marcou pois nunca havia
acontecido isso e acho difícil de acontecer. É tradicional também, o
aniversariante levar bebidas e comidas no vestiário para o pessoal.
CF: O que você recomendaria de pontos turísticos e culinária para quem for conhecer a Sérvia, ou
até mesmo só Belgrado (cidade do clube)?
LP: Os lugares são os parques. A cidade possui muitos parques verdes para passear e relaxar e tem a Igreja de Saint Sava, a maior catedral ortodóxica da Europa, que é muito bonita. Outro ponto turístico é o Kalemegdan, a antiga Fortaleza da cidade. Sobre a culinária, eu acho muito gostosa uma carne chamada Cevapcici.
LP: Os lugares são os parques. A cidade possui muitos parques verdes para passear e relaxar e tem a Igreja de Saint Sava, a maior catedral ortodóxica da Europa, que é muito bonita. Outro ponto turístico é o Kalemegdan, a antiga Fortaleza da cidade. Sobre a culinária, eu acho muito gostosa uma carne chamada Cevapcici.
Entrevista realizada via internet.
Colaboração: Matheus Laboissiere
Contato: fiusa.caio@gmail.com
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