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Volante considera as lesões os momentos mais difíceis da carreira./Foto: flamengo.com.br |
Aos 32 anos, o volante chileno Claudio Maldonado é conhecido pelo seu
estilo de jogo aguerrido, como todo bom marcador sulamericano. Revelado
pelo Colo Colo, tradicional clube do Chile, ele acumula passagens por
São Paulo, Cruzeiro, Santos, Fenerbahçe-TUR e seleções de base e
principal. Atualmente no Flamengo, conquistou o Campeonato Brasileiro de
2009 e o Carioca de 2011. Abaixo, você confere na íntegra e com
exclusividade a entrevista que o jogador deu ao blog do Caio Fiusa, onde lembra o período difícil que viveu com a camisa rubro negra e comenta a situação do futebol de sua terra natal.
Caio Fiusa: O
Campeonato Brasileiro de 2012 foi o que mais teve jogadores
estrangeiros na história. Por que você acha que isso está acontecendo?
Claudio Maldonado: O
nível do torneio está crescendo a cada ano. Muitos jogadores que
estavam lá fora, estão voltando porque eles sabem que o futebol
brasileiro está qualificado como um dos melhores do mundo. E todo ano
aparecem jogadores estrangeiros, todo ano os clubes abrem as portas para
nós que somos de fora. Eu acho que por isso há tantos como argentinos,
chilenos, peruanos agora, aqui. É um mercado muito forte, que a cada dia
cresce muito.
CF: Você veio para o Brasil em
2000, muito novo ainda. Por que a opção de vir? Foi pela questão
financeira, pelo futebol brasileiro ser uma vitrine?
CM:
Na verdade, o Colo Colo tinha uma dívida com o São Paulo. Quando eles
(São Paulo) foram ver um zagueiro, não quiseram por ser mais velho. O
São Paulo queria um jogador mais jovem, que pudesse dar um retorno ao
clube. Foi ali que eles me viram e quiseram me contratar. Cheguei com 20
anos e foi a melhor coisa que podia acontecer. Poder mostrar o meu
futebol tão competitivo como o brasileiro e abrir portas para outros
clubes, para mim foi o ideal.
CF: Como foram os primeiros meses de São Paulo? Você fala muito bem português, demorou muito para aprender?
CM:
Não, porque no mês que cheguei, eu ficava muito tempo concentrado com
meus companheiros. O São Paulo ainda estava na disputa do Paulista e da
Copa do Brasil, então eu passava mais tempo no clube do que em casa. Foi
naquele dia a dia que eu aprendi a falar, a me cuidar dentro e fora de
campo, foi o momento ideal para eu poder aprender tudo o que eu sei
hoje. O São Paulo me ofereceu toda a estrutura, além dos meus
companheiros que foram fantásticos comigo. Todo o momento confinado foi
de aprendizado.
CF: Teve muitas dificuldades na adaptação?
CM:
Não tive muitas. Claro, você não consegue falar direito nos primeiros
três, quatro meses. Às vezes é difícil você se expressar, mas não tive
em momento algum aquela dificuldade de ficar abatido, triste. Foi muito
fácil, tudo correu de um jeito que eu não esperava. Isso me ajudou para
poder conhecer mais da cultura brasileira, falar bem, acho que tudo isso foi um muito bom. Eu cheguei muito novo, querendo aprender, querendo
sempre o melhor também.
CF: Você começou no Colo
Colo, clube de grande torcida no Chile e hoje está no Flamengo, que tem a
maior do Brasil. Tem como comparar?
CM: A
pressão é igual. São dois times do povo, pressão o tempo todo. As
torcidas de Flamengo e Colo Colo não aceitam não serem campeões, não
chegar entre os primeiros. Os dois são parecidos, por isso que eu já me
sentia em casa quando cheguei. Já estava acostumado.
CF: Falando sobre o Flamengo. Você chegou ao clube em um bom momento, já sendo campeão
no primeiro ano. Como foi a sua chegada?
CM:
Cheguei com o Álvaro, porque o clube queria dois jogadores mais
experientes para poder compôr a defesa. Foi aí que a gente deu uma força
para o time e tivemos uma reta final muito boa. Foi um momento muito
bom para o clube e para mim, que estava fora e pude voltar ao Brasil e
mostrar o meu trabalho.
CF: Apesar da boa fase
do clube, você teve uma lesão antes dos últimos jogos, inclusive não
podendo jogar contra o Grêmio, o jogo do título. Na época, você já era
experiente. Como foi esse momento?
CM: As
últimas três partidas eu não pude jogar. Infelizmente me machuquei em um
amistoso da seleção e fiquei quase quatro meses fora. Foi muito
difíci porque eu tinha voltado bem, estava me sentindo bem desde que eu
tinha chegado ao Flamengo e ficar os últimos três jogos de fora, foi
muito triste. Não poder estar ali ajudando depois de tudo que tínhamos
feito em onze, doze jogos. Não poder estar ali compartilhando aquela
felicidade com os meus companheiros, brigando pelo título. Foi muito
triste não poder estar em campo, mas por outro lado eu estava ali com
eles no dia a dia, incentivando o tempo todo. Nós éramos um grupo e você
tem que incentivar o cara que está ali e tentar dar força. Fiquei
triste por ficar de fora mas feliz pelo Flamengo ter saído campeão.
CF: O
Flamengo tem a maior torcida do Brasil, mas nesse ano teve a décima
média de público. Por que uma posição tão abaixo do que é esperado do
Flamengo?
CM: Acho que a gente perdeu muito
depois que o Maracanã fechou. Nosso torcedor não estava mais com aquela
vontade de ir ao jogo, até porque, para algumas pessoas ficava difícil o
acesso ao Engenhão. Não é o nosso estádio, é tudo diferente e jogos à
noite é mais perigoso. Então, acho que as pessoas ficam com um pouco de
receio. A gente que depende muito do torcedor flamenguista, perdeu com
isso e esses anos estão sendos difíceis. Não vai muita gente. Talvez o
torcedor espera para ir só nos finais de semana, quando o jogo é mais
cedo e dá para se programar melhor. O Flamengo perdeu muito com isso. O
Maracanã era praticamente a nossa casa, o torcedor ia com felicidade,
tinha gosto de ir.
CF: Já chegou a pensar em formar dupla com Cáceres? Acha que daria certo pelo estilo de jogo parecido?
CM:
Acho que poderia ser, porque temos um estilo diferente de jogar, mais
aguerrido. A gente tem um futebol mais de pegada, até pela posição em
que jogamos. Ali no meio tem pegada o tempo todo, choque o tempo todo.
Então, acho que estamos mais acostumados que os brasileiros.
CF: A crise interna, muito por causa do período eleitoral do clube, atrapalhou de alguma forma dentro de campo?
CM:
Acho que não. Nós estavámos sempre meio de fora de tudo o que estava
acontecendo. Claro que a gente escutava e via o que acontecia no dia a
dia, mas eu acho que isso não influenciou muito para nós estarmos mal ou
jogarmos mal. Tem aquelas coisas de salário atrasado, o cara não está
feliz porque o clube está devendo, tudo isso foi um problema muito
grande ao longo desse ano. Mas eu acho que não tem relação com o nosso
rendimento dentro de campo. Você tem que separar. Você se sente
insatisfeito, não consegue se programar, mas quando veste a camisa
esquece de tudo e tenta sempre fazer o melhor.
CF: Esse ano você quase não jogou. Como fica a cabeça de um jogador que convive com lesões, mesmo sendo experiente?
CM: Esse
ano foi muito difícil desde o início. Eu nunca tava legal, o meu
joelho sempre estava com algum problema. Foi o momento mais difícil.
Fiquei quase o ano todo de fora, não conseguia acompanhar os meus
companheiros, ficava tratando o tempo todo, duas vezes por dia, treinos
aos sábados. Foi o pior momento que já vivi. Depois que passei por duas
cirurgias, graças a deus melhorou. Depende muito de você, da sua cabeça,
do que você quer. Mas eu sou tranquilo, sabia que ia me recuperar, ia
ficar bem, voltar a jogar que era o principal. As pessoas às vezes
sentem a sua falta. Elas te vêem sempre ali e é difícil para o torcedor
entender porquê você não joga quinze, vinte jogos, fica o ano todo fora.
Agora eu estou bem, quero começar 2013 do zero.
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Maldonado acha que os jogadores chilenos mudaram de mentalidade/Foto: Vipcomm |
CF: A torcida do Flamengo cobra muito a raça dos jogadores em campo. Acha que foi por isso que eles sentiram a sua falta?
CM: Eles sentiram desde a saída do Williams. Sentiram que faltava alguém com as características parecidas com a dele. Ficamos sem jogador de pegada. Depois chegou o Amaral, que foi muito bem, o Cáceres, mas ele querem que o jogador jogue, que tenha uma qualidade diferente.
CF: A seleção chilena tem evoluído com o tempo. Hoje, já consegue jogar de igual para igual com alguns potências. Qual o motivo da evolução do futebol chileno?
CM: O grupo é muito jovem. Então, a maioria está jogando fora. As seleções passadas eram formadas quase todas por jogadores que estavam fora do país. E eu acho que com isso, a seleção aprendeu muito e fora o trabalho que o Bielsa fez. Ele fez os jogadores acreditarem que eles podiam fazer tudo o que as seleções faziam. Isso foi um aprendizado muito bom, trabalhar com um cara como o Bielsa, deixou um legado muito forte na seleção. Com trabalho e dedicação, os jogadores acreditam que podem fazer. Além disso, a experiência que cada um tinha fora. O (Arturo) Vidal da Juventus-ITA, o Alexis (Sanchéz, do Barcelona), jogadores que agora são de um nível altíssimo, que estão fazendo a diferença. Claro, que podem perder alguns jogos, mas deixaram uma base muito boa que pode se classificar para a segunda Copa consecutiva.
CF: Tem acompanhado os campeonatos chilenos? Como andam os clubes?
CM: Os clubes estão muito bem. O Universidad do Chile se manteve dois anos muito bem. O treinador do clube na época, o Sampaoli, que hoje está na seleção, fez um trabalho parecido com o do Bielsa. Foram campeõs da Sulamericana. O Colo Colo estava em altos e baixos, chegou um treinador argentino de novo e agora que começou a se recuperar, mas mesmo assim não se classificou para as finais do campeonato. O futebol do Chile está crescendo, aparecendo jogadores novos, com cabeça boa que antigamente era difícil. Os jogadores estão mais espertos.
CF: O seu contrato termina agora (dia 31/12/2012). Você vai continuar no Flamengo? Eu sei que o Luxemburgo é um admirador do seu futebol. Ele já chegou a conversar com você sobre a possibilidade de trabalharem juntos novamente?
CM: Não falei com o Vanderlei ainda. Eu queria me dar esse tempo agora porque eu acho que devo isso ao Flamengo por todo o tempo que fiquei machucado. Primeiro eu vou conversar com o Flamengo, o Dorival quer que eu fique para o ano que vem. Mas existe uma reunião ainda que vai acontecer...que deveria acontecer para ver a minha situação. Se não der certo aí eu vejo o que faço e para onde vou. Mas, primeiramente eu vou conversar com o Flamengo, devo isso a eles. Tenho um respeito muito grande pelo clube. Eles ficaram o tempo todo comigo, me incentivando mesmo sabendo que eu não ia jogar mais esse ano, que o meu contrato ia acabar. Se eles falarem que não me querem mais, tudo bem, eu vou estar sempre agradecido ao clube, não tenho o que falar do Flamengo.
Entrevista realizada por telefone quinta feira, dia 13/12/2012
Contato: fiusa.caio@gmail.com
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