sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Entrevista: Tom Gilio

Tom Gilio destaca sua versatilidade como fundamental
para o sucesso na Bulgária./Foto: lokomotiv.hit.bg
Continuando a série de entrevistas com jogadores brasileiros espalhados ao redor do mundo, o blog do Caio Fiusa desembarca na Bulgária. É lá que Tom Gilio, volante de 27 anos, joga desde 2008. Após passagens pelas categorias de base do São Paulo e Palmeiras, Tom foi revelado pelo Botafogo de Ribeirão Preto. Há cinco anos no país europeu, o jogador já autou pelo Lokomotiv Plovdiv, Minyor Pernik e atualmente defende o Lokomotiv Sofia, clube da capital. Em entrevista exclusiva, o volante conta curiosidades da cultura búlgara e do futebol local. Além disso, ele revela momentos obscuros do futebol como a violência e o preconceito.

Caio Fiusa: Quando chegou ao país teve muitos problemas na adaptação? Os búlgaros têm algum hábito curioso?

Tom Gilio: Não tive problema não. Só senti muita falta do arroz e feijão. Mas de resto é tranquilo. A comida aqui é a base de frango, porco e batata. Eles têm a tradição de comer salada e tomar ''pinga'' com gelo antes do prato principal.

CF: Porque acha que está há tanto tempo no país? Quais são suas principais características dentro de campo que o fazem ser reconhecido?

TG: Sou um segundo volante que sai para o jogo, mas já atuei até como atacante. Tenho facilidade de jogar em outras posições. O jogador brasileiro no geral tem essa facilidade, ainda mais se for do meio para frente. O futebol brasileiro é muito mais técnico e em um nível bem superior. Aqui é muita correria e força física.

CF: Há cinco anos no país e na terceira equipe búlgara, como você avalia o futebol local? É vantajoso financeiramente, por exemplo, para os brasileiros?

TG: A diferença entre as estruturas dos clubes é grande, em questão de estádio, campo para treinos e salário. Financeiramente depende porque o Brasil está em um momento muito bom, perde para poucos países nesse quesito. De 5 anos para cá, evoluiu muito. O futebol búlgaro é bom para estrangeiros porque eles são mais valorizados do que os que nasceram aqui. Mas já rolou preconceito por parte dos jogadores búlgaros por conta disso. Mas eu recomendo mais como uma porta de entrada para a Europa.

CF: Esse preconceito é somente com ofensas ou chega a agressões?
 
TG: Não chega a agressão, mas rola muita coisa na base da trairagem. É mais pelas costas porque os búlgaros são pipoqueiros. Eles não falam na cara. Acontece racismo mesmo, chamam de ''macaco'' e tudo. Eu como sou branco passo desapercebido e vejo isso acontecer.

CF: Essa violência se estende para as torcidas? Como é comportamento dos torcedores? São violentos?

TG: Sim, bastante. As torcidas marcam brigas pela internet, uns 50 contra 50 e o pau come. Uma vez pelo Lokomotiv Plovdiv, a torcida do rival, o Botev Plovdiv, queria me pegar em um supermercado. Mas não chegou a ter agressões, só xingamentos. Até agora foi a situação mais tensa que vivi.

CF: Fora isso, os torcedores acompanham seus clubes? Costumam ir aos jogos fora de casa?

TG: Depende do clube. Não são todos que têm torcida. Mas em geral acompanham até porque o país é pequeno, são 600 km de uma ponta a outra. As cidades são próximas.

Sem apoio do antigo empresário, o jogador diz que volta
ao Brasil é complicada./ Foto: Arquivo Pessoal
CF: Ainda sobre esse assunto, o Brasil passa por um fervor em torno da seleção muito pela mudança de postura com o Felipão no comando, a proximidade com a Copa e o título da Copa das Confederações. Na Bulgária, há essa paixão pela seleção? E existe algum jogador que seja a referência para o povo?

TG: Antes sim. Está voltando porque a Bulgária tem chances de ir para a repescagem das Eliminatórias da Copa. Sobre o jogador, é o Stoichkov sem dúvidas. O Berbatov não quis jogar mais pela seleção e isso deu uma queimada nele. 

CF: E o time atual tem alguma grande estrela?

TG: É mais o conjunto. O treinador Lyuboslav Penev é a estrela do momento. Ele arrumou o time só com a garotada, o mais velho deve ter 27 anos. 
 
CF: Já são cinco anos fora; tem vontade de voltar para o Brasil? 

TG: Tenho muita vontade, mas sem empresário fica difícil. Sai há muito tempo e ninguém me conhece mais. Preciso de um empresário para fazer o meio de campo. Deus sabe das coisas e se tiver que voltar, vou ficar feliz.

CF: Estar sem empresário foi uma escolha sua?

TG: Sim, também. Eu não estava tendo o apoio necessário da parte dele.

CF: Você mesmo disse que as pessoas no Brasil não lembram de você e todo jogador sonha em jogar pela seleção de seu país. Por conta disso e por estar há tanto tempo na Bulgária, não pensou em tentar uma naturalização para jogar pela seleção local?

TG: Se tudo der certo, em novembro pego o passaporte. Ainda não recebi, vamos depois. A seleção está fechada, difícil entrar alguém, ainda mais estrangeiro. 

CF: Falando agora sobre o futuro do futebol búlgaro, recentemente a França foi pela primeira vez campeã mundial sub-20. Como anda o futebol do país em relação a novos talentos?

TG: Deixa muito a desejar, por isso não revela jogadores. Falta estrutura na base, não há estímulo para o jovem jogador.

CF: Sobre a cultura búlgara, o que você aprendeu sobre a história do país? Algum ponto turístico a destacar? O que um turista brasileiro precisa saber e conhecer?

TG: A Bulgária é um país de muita história. Plovdiv é uma das cidades mais antigas da Europa. Algumas cidades búlgaras têm mais de 3 mil anos e estão preservadas. A cultura é muito rica.
A Bulgária gira em torno da capital Sófia, mas no verão o litoral recebe muitos turistas de outros países por ser bonito e de baixo custo. Isso acontece porque a moeda, a lev, é o equivalente a 2 euros. Além disso, o custo de vida também é baixo. E eu destacaria os museus de Sófia e as estações de esqui no inverno.

CF: E durante todo esse tempo quais foram os momentos mais marcantes, que você destacaria dentro e fora de campo?

TG: No futebol foi o gol que fiz no clássico Lokomotiv Plovdiv x Botev Plovdiv. O estádio estava lotado e eu tinha acabado de chegar ao clube. Teve o gol da semana retrasada (veja o vídeo ao lado) também que foi o mais bonito da minha carreira. Na vida foi o fato de ter vindo sozinho para um país bem diferente e sem falar inglês. Tive que me virar e a questão do inverno também. Já peguei 27 graus negativos.

CF: Sobre o seu futuro, quais são seus planos?

TG: Quero sair para um time melhor, fazer meu pé de meia e ficar tranquilo depois do futebol.

Entrevista realizada em 12/09/2013, pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Entrevista: Leo Itaperuna

Revelado pelo Fluminense, Léo chegou
ao Sion em 2012./ Foto: www.fc-sion.ch
O ano de 2007 guarda boas lembranças para o torcedor do Fluminense. Tudo porque neste ano, o Tricolor foi campeão da Copa do Brasil e deu uma reviravolta em sua história com sucessivas participações em Libertadores, dois títulos brasileiros e um carioca. Mas 2007 também foi especial para Léo Itaperuna. Formado na base do clube, o atacante, hoje com 24 anos foi lançado no time profissional por Renato Gaúcho e após problemas internos, rodou por equipes menores. Chegou ao Arapongas do Paraná e foi um dos artilheiros do campeonato estadual, despertando interesse do FC Sion, da Suíça, clube que defende desde 2012. Em entrevista exclusiva ao blog do Caio Fiusa, ele lembra da passagem do italiano Gennaro Gattuso pela equipe e comenta a relação dos torcedores suíços com o futebol.

Caio Fiusa: Eu queria que você começasse dizendo porque não conseguiu ficar mais tempo no Fluminense e acumulou empréstimos a outras equipes.

Léo Itaperuna: Comecei muito bem no profissional. Fui lançado pelo Renato Gaúcho, um dos melhores treinadores com quem já trabalhei, e cheguei a marcar um gol na minha primeira partida. Tiveram muitos desentendimentos entre a diretoria e o meu empresário, o que resultou nos meus empréstimos para outros clubes. Fora isso, aprendi bastante durante os muitos anos que fiquei no Fluminense e tenho vários amigos lá. Só tenho a agradecer ao clube.

CF: Depois do Fluminense, você rodou por vários clubes como América-RJ, Paulista, Cabofriense, CRAC-GO, Duque de Caxias-RJ, Anápolis e Arapongas-PR. Como foi parar no FC Sion? E o que tem achado do futebol suíço?

LI: Eu estava disputando o campeonato paranaense pelo Arapongas e fui um dos artilheiros com 10 gols. Um diretor do FC Sion foi a Curitiba ver um jogo, no qual eu fui bem e fiz um gol. Houve um contato entre os clubes e chegamos a um acordo. O futebol aqui não é como no Brasil, com aquela paixão, mas é técnico, tatico e de velocidade.

CF: A Suíça é um país que tem muitos imigrantes. Como lidou com tantas culturas diferentes?

LI: Aqui as culturas são bem diferentes, mas graças a Deus me adaptei rápido. No time titular do FC Sion só tem um suíço, mas isso é bom porque eu vou aprendendo um pouco de cada cultura de diferentes continentes. Tenho um ótimo relacionamento com todos. A grande vantagem é o convívio fora de campo. Toda semana tem almoço ou jantar com todos os jogadores e comissão técnica, o que faz aumentar a amizade.

Para Léo, prioridade dos clubes é a
Copa da Suíça./ Foto: Arquivo Pessoal
CF: E o que mais te chamou atenção na cultura suíça?

LI: O que mais me chamou atenção foi a forma como eles tratam os brasileiros. Quando gostam, convidam para suas casas e fazem de tudo para agradar.

CF: O que falta para o campeonato suíço atrair o público brasileiro?

LI: Eu penso que o campeonato suíço é muito desvalorizado. Não sei o porquê. Outros campeonatos que não são tão empolgantes, têm mais visibilidade. Mas aqui na Europa ele é reconhecido pelos outros países. Quem se destaca aqui, acaba jogando em grandes equipes de outros países. Sinceramente não sei o que falta para atrair a atenção dos canais esportivos brasileiros.

CF: O FC Sion tem apenas dois títulos nacionais e o último foi em 1996/1997. Há muita cobrança para quebrar esse jejum?

LI: Não tem muita cobrança por parte da torcida, mas sim pela dos dirigentes. O FC Sion tem um ótimo time e tem tradição. Em breve vamos conquistar um título e dar fim a esse jejum.

CF: Em compensação, o clube disputou doze finais da Copa da Suíça e venceu todas. A competição é encarada de forma diferente?

LI: Aqui eles dão muita importância à Copa da Suíça porque é o caminho mais curto para disputar a Europa League. Ano passado saímos na semifinal para o Basel, que é o time de maior investimento, mas esse ano brigaremos pelo título.

CF: Você chegou a trabalhar com o Gattuso, que foi jogador e técnico do FC Sion. Como foi a experiência?

Parceria com Gattuso rendeu muitos ensinamentos a Léo
dentro e fora de campo./ Foto: Arquivo Pessoal
LI: Gattuso é uma ótima pessoa e ótimo profissional. Tive o prazer de trabalhar com esse cara vencedor que sempre queria ganhar. Ele como treinador não era diferente, tinha a mesma luta e dedicação. Foi um super treinador e tenho certeza que será em breve um dos melhores do mundo. Aprendi muita coisa com ele e ouvi conselhos que vou levar para a vida toda.

CF: E o que você aprendeu?

LI: Taticamente aprendi muita coisa como uma simples movimentação, um toque na bola pode fazer toda diferença no jogo. Ele me dizia que o futebol é simples e a gente que inventa. Fora de campo aprendi a ser mais profissional nas horas livres, a me alimentar melhor, me cuidar melhor. São coisas que eu não fazia antes, mas graças a Deus a passagem dele me fez crescer profissionalmente.

CF: Atualmente, o Brasil tem no Neymar a principal esperança para a Copa do Mundo. Ele é o jogador que representa a seleção. Na seleção suíça também há esse jogador ou eles são fãs de nomes mais conhecidos como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo?

LI: Shaqiri. Esse é o grande nome da Suíça para a Copa do Mundo. O jogador do Bayern é técnico, rápido e finaliza bem. Ele fez uma boa partida contra o Brasil. Além dele, tem outros bons jogadores, mas o Shaqiri é a estrela. Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar são comentados e admirados aqui, mas a torcida se identifica mais com os jogadores da seleção suíça.

CF: Falando ainda sobre o Brasil, mas mais especificamente sobre o Fluminense, clube onde você foi revelado, costuma assistir aos jogos?

LI: Sempre assisto aos jogos do Fluminense e das outras equipes. Quando não consigo ver por causa do fuso horário, gravo e assisto depois. Estou sempre bem informado sobre o futebol brasileiro.

CF: Apesar do pouco tempo aí, já pensa em voltar? Recebeu alguma sondagem?


LI: Por enquanto não penso em voltar. Penso em seguir na Europa por mais um tempo, depois em retornar ao futebol brasileiro. Ando recebendo algumas sondagens e se a proposta for boa, retorno sem problemas.

CF: E para a gente terminar, queria que você dissesse qual foi o momento mais marcante desde que está na Suíça.

LI: Foi o meu gol de bicicleta que ganhou o mais bonito da Europa. (veja o vídeo acima)


Entrevista realizada em 12/09/2013, pela internet.
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Entrevista: Mandinho

Para Mandinho, futebol lituano é bom para
jovens atletas/ Foto: Arquivo Pessoal
Talvez você não conheça Armando Tarlazis Vieira dos Santos, nem Mandinho e nem dos Santos. Mas provavelmente se você perguntar a um cidadão lituano ele saberá quem é. De primeira ele pode falar o apelido errado, como revela o próprio jogador, mas facilmente vai saber que se trata de um brasileiro, que jogou 5 anos na Lituânia e fez fama e família por lá. Aos 29 anos, o meia que passou por equipes de São Paulo, como o Tricolor Paulista e Palmeiras, ainda na base, foi em busca de novas experiêcias no Velho Continente. A primeira parada foi na Dinamarca, onde rodou por três equipes. Em seguida, desembarcou na Lituânia, em 2007, para ter o primeiro contato com o país. De lá voltou para São Paulo, fez escala de uma temporada na Estônia. Após atuar no país vizinho, retornou a Lituânia. Hoje, em Malta, ele conta um pouco da experiência que viveu no país báltico em entrevista exclusiva ao Caio Fiusa.

Caio Fiusa: Primeiramente, Mandinho ou Armando Tarlazis?

Mandinho: Como você quiser. Mandinho eu gosto mais, mas no meu uniforme usava dos Santos. O Guilherme Ferreira, meu empresário, gosta mais de Mandinho. Ele acha que é um produto melhor. O problema é que na Lituânua eles tinham dificuldade em falar. Ficava Mandinio ou Mandinrro

CF: Mandinho, como você avalia o mercado lituano para os jogadores brasileiros?

Mandinho: Quando fui para lá a primeira vez, era um mercado muito bom, tanto para jovens quanto para jogadores experientes. Os clubes pagavam bem e o nível do campeonato era alto. Mas houve uma crise no futebol lituano, alguns clubes saíram da competição e com isso a parte financeira caiu muito. Hoje, algumas equipes já podem pagar os jogadores como antes ou perto do que era. Eu acredito que para os jogadores novos é um bom caminho para entrar na Europa, mas eles precisam ter a humildade de aceitar um novo tipo de futebol e uma nova mentalidade. A adaptação não é fácil, o clima não ajuda. Mas, quando se é um jogador com vontade de vencer é uma oportunidade muito boa, já que os clubes oferecem a estrutura necessária.

CF: Então você teve uma adaptação complicada?

Mandinho: Eu tive uma adaptação mais tranquila porque já tinha jogado na Dinamarca, um país frio. A comunicação foi com certeza um problema porque nem todos no time falavam inglês e eu tive que aprender pelo menos o básico do lituano. O inverno é bem rigoroso e longo. Até o começo do campeonato ainda estava nevando e as primeiras rodadas são jogadas em campos de grama artificial. Mas eu tenho a seguinte filosofia: quando eu saio do meu país, para tentar algo em outro lugar, eu preciso ir com a mente aberta e tentar absorver o máximo dos costumes e aprender coisas novas. Eu que tenho que me adaptar ao país e não o contrário. Então, apesar de eu ter tido algumas dificuldades, tentei levar da melhor maneira possível e evoluir como jogador e ser humano.

CF: Ainda sobre a adaptação, alguma coisa mudou na pessoa Armando Tarlazis Vieria dos Santos?

Mandinho: Eu me tornei uma pessoa mais forte mentalmente. Um pouco mais duro até. Acredito que essa foi a maior mudança.

CF: O futebol é muito diferente? E quais as principais diferenças?

Mandinho: Se antes, na minha primeira passagem, quando haviam muitos estrangeiros, principalmente sulamericanos, o futebol já era bem físico e com bastante contato, hoje, predominantemente com jogadores lituanos e do leste europeu, ficou ainda mais. A parte de treino também é muito diferente do que estamos acostumados. Na Lituânia se valoriza muito a potência, os piques curtos e os saltos. Além disso, a parte tática é bem rígida, não há muito espaço para o improviso.

CF: Você tem uma filha pequena e uma das preocupações dos jogadores brasileiros quando estão em outro país é em relação ao crescimento dos filhos longe do Brasil e à educação. Como está sendo essa fase?

Mandinho: Quando eu e minha esposa, que é lituana, decidimos ter um filho, achamos melhor voltar para a Europa, porque no nosso ponto de vista nos traria mais segurança. Nossa filha nasceu na Lituânia, mas eu gostaria muito de criar minha filha e meus futuros filhos no Brasil, mas infelizmente, pela questão da segurança, nào é a melhor opção. É o país que eu amo, mas todo dia, mesmo daqui de Malta, eu vejo notícias de sequestros, assassinatos e coisas do gênero e isso para um pai a segurança dos filhos vem em primeiro lugar. Lógico que em todo lugar há risco, mas na Europa é bem menor. Nós matriculamos ela em uma escola lituana, mas com a mudança de clube e país, ela deve acabar estudando em uma escola daqui. O clube está nos ajudando muito com isso. Sou bastante grato.

Destaque no FK Banga Gargzdai, vê o campeonato
lituano desnivelado./ Foto: Arquivo Pessoal
CF: No passado, a Lituânia pertenceu à Polônia e depois à União Soviética. Percebe alguma semelhança no futebol?

Mandinho: Sim, há semelhanças até pelo fato de jogadores e treinadores que trabalham na Lituânia terem trabalhado na Rússia ou na Polônia. Eu joguei também na Estônia e lá morei em uma cidade russa. Basicamente a filosofia e mentalidade era a mesma que eu já conhecia da Lituânia, muitos inclusive falam russo. Mas eu acho que por causa da internet e também da Lituânia hoje ser um país que não sofre tanta influ^ncia russa, a tendência é que os métodos de treinamento e a cultura mudem gradativamente. Hoje o time que está liderando o campeonato e que quase entrou na fase de grupos da Europa League, o Vilnius Zalgiris, que por sinal tem um técnico polônes, joga um futebol muito bonito e técnico.

CF: Você atuou por FC Siauliai, FC Klaipeda, FK Banga Gargzdai...O campeonato é nivelado?

Mandinho: O FC Klaipeda não existe mais. O clube foi montado com muitas promessas, mas com pouco comprometimento de quem o formou. O campeonato não é nivelado. Os primeiros colocados têm uma receita anual muito maior do que os clubes médios e os médios também são bem acima dos clubes da parte de baixo da tabela. Então, o campeonato se torna menos atrativo por isso. Mesmo assim, às vezes é possível acontecer algumas surpresas. O campeonato tem 4 turnos, então as equipes se enfrentam muitas vezes e se conhecem bem. Mas o que eu acho que é determinante é que as grandes equipes contam com 20 jogadores mais ou menos do mesmo nível, enquanto as médias apenas 11. Isso em um campeonato longo, se torna um fator de desequilíbrio.

CF: Você chegou a trabalhar com o treinador Luis Antônio. Você acha possível que um brasileiro seja peça fundamental na evolução do futebol lituano, como o Zico foi para o Japão?

Mandinho: O professor Luis Antônio não teve uma real oportunidade de mostrar o seu trabalho. A estrutura oferecida a ele era muito aquém do mínimo necessário. Acho que se um treinador como o Zico, de nome, fosse para a Lituânia, pegasse um time com recursos, teria grande chance de levantar o futebol de lá. A seleção lituana hoje tem muitos atletas jogando fora do país e consegue jogar um futebol competitivo. Então, material humano tem. Acho que serua muito bom para o país que pessoas de nome trabalhassem lá ou mesmo jogadores lituanos de sucesso fora do país.

CF: Falta investimento?

Mandinho: Investimento falta com certeza. Os clubes tem grandes dificuldades de levantar recursos. Não acho que seja falta de profissionalismo, mas um processo na estrutura do futebol requer tempo de assimilação e implantação dos métodos dos grandes centros no futebol lituano. Isso não se faz do dia para a noite. Conheci pessoas lá muito bem intencionadas, mas que ainda não conseguiram implementar essa administração, porque nem todos estão prontos para isso.

CF: A Lituânia hoje é referência no basquete, tendo conquistado 3 medalhas de bronze seguidas em Olimpíadas (1992,1996,2000) e dois quarto lugar (2004, 2008). O futebol fica em segundo plano? A torcida lituana não é tão chegada assim ao futebol?

Para Mandinho, o torcedor lituano respira futebol/
Foto: Arquivo Pessoal
Mandinho: O basquete sempre briga por medalha em mundiais e é o orgulho do país. O futebol corre por fora. Mas isso não quer dizer que não haja torcida. Pelo contrário. Nos últimos dois campeonatos joguei pelo FK Banga Gargzdai, que tem umas das torcidas mais apaixonadas, a cidade inteira respirou futebol e foi uma surpresa muito grande. Acho que se a seleção de futebol tiver melhores resultados, chegando a se classificar para uma Copa do Mundo, o futebol vai ser mais valorizado, não pela torcida, mas pelos patrocinadores e investidores.

CF: A Suécia tem no Ibrahimovic sua grande estrela, assim como a Croácia tem o Modric e a Ucrânia teve o Shevchenko. Ter um jogador de sucesso mundial, referência do país, ainda é muito distante da realidade o futebol lituano?

Mandinho: Não acho. A Lituânia hoje tem jogadores em grandes equipes da Europa como o Marius Stankevicius, da Lazio. Mas ainda não tem um jogador que seja referência ou protagonista de um time. Isso se deve ao fato de se valorizar muito o físico e pouco a técnica, como disse antes. Então, consequentemente, os jogadores formados são mais defensivos ou para compôr elenco e não são líderes dentro de campo. Porém, alguns jovens atletas já estão indo para os grandes centro, com isso pode ser que desponte alguém.

CF: Por ter uma relação com o país e o carinho do torcedor, não pensou em se naturalizar? Recebeu algum convite?

Mandinho: Não, na Lituânia nunca tive o convite. Eu não pensei em naturalizar porque, por mais absurdo que pareça, estou há 12 anos em processo para tirar meu passaporte grego, já que tenho descendência grega. Mas não descartaria defender a Lituânia, tenho muito carinho pelo país, além de ter amigos e parte da minha família ser de lá. Seria uma honra ser um cidadão lituano.

CF: Cerca de 30% por cento do território lituano são florestas. É o principal ponto turístico? Além deles o que mais destacaria no país e nos costumes lituanos?

Mandinho: Sim, o país tem florestas onde pode-se acampar. Também tem lagos muitos bonitos e castelos. As praias no verão são muito frequentadas. A comida é deliciosa, apesar de ser bem diferente da nossa. Eles comem muita carne de porco, salsicha, batata...Tomam sopa sempre antes do prato principal e costumam tomar chá. O pão de lá é muito bom e os morangos são os melhores que já comi. Os lituanos vão muito aos cemitérios, porque, ao contrário do Brasil, não existe o coveiro, é a própria família quem cuida dos túmulos. Eles cultivam muito as datas comemorativas como Natal e Páscoa, cresci muito com isso também.

CF: Queria que você contasse alguma história do período que esteve na Lituânia.

Mandinho: Bom, a história mais curiosa que eu passei, foi quando a avó da minha esposa foi me ensinar a cortar lenha. Ela pegou um machado e me mostrou como cortar. Eu achei que era fácil e fui tentar. Quase arranquei minha perna fora. Fui proibido de chegar perto do machado.

CF: Sobre o seu futuro, quais são os seus objetivos?

Mandinho: Eu tenho ainda muitas ambições. Continuo motivado, mas aprendi a não fazer planos que não estão no meu controle. Eu quero atingir o mais alto que posso e trabalho diariamente para isso. Penso sempre em ganhar o próximo jogo. Vamos ver aonde isso vai me levar.

Mandinho sonha em trabalhar com crianças no futuro/
Foto:Arquivo Pessoal
CF: Eu sei que talvez, até por conta da sua idade, isso ainda esteja um pouco distante, mas quando parar pensa em trabalhar com futebol?

Mandinho: Sim, eu penso sobre isso. No FK Banga Gargzdai houve uma conversa e vejo possibilidade em outros lugares também. Gostaria muito de trabalhar com crianças. Acho que é um trabalho difícil, duro, mas livre, que sofre menos influências externas, a não ser as dos pais. Ser olheiro também é uma possibilidade real. Já indico alguns jogadores ao meu empresário. Mas por hora ainda sou apenas um jogador e, pelo meu nível de profissionalismo, acho que posso jogar por bastante tempo em um bom nível. De qualquer forma, a semente está plantada e as pessoas conhecem o meu caráter. Então, quando eu parar, é bem provável que continue no futebol.

Entrevista realizada em 11/09/2013, pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Entrevista: Lucas Ramon

Zagueiro chegou em 2008 em Malta, após se
destacar pelo Oeste-SP/Foto: Arquivo Pessoal
Em uma ilha, no continente europeu, com quase 1 milhão de habitantes, vive um brasileiro tentando a sorte no futebol. Revelado pelo Luverdense-MT, em 2004, o zagueiro Lucas Ramon, de 28 anos, chegou a Malta em 2008 após de destacar no Oeste, no campeonato paulista da série A-3. Após passagens pelo Qormi FC e Valletta FC, clube da capital onde foi campeão nacional e eleito melhor zagueiro da competição, chegou ao Vittoriosa Stars. Abaixo você confere a entrevista exclusiva que Lucas Ramon deu ao blog do Caio Fiusa. Na conversa ele fala sobre o período de adaptação no país e avalia a oportunidade de defender uma equipe maltesa para os brasileiros.

Caio Fiusa: Como você foi parar em Malta? Um país tão pequeno e tão desconhecido dos brasileiros. Conhecia alguma coisa a respeito?

Lucas Ramon: Eu não sabia nada sobre Malta, nem sobre o país e nem sobre o futebol. Eu tinha acabado de jogar o Campeonato Paulista da Série A-3 e viajei para o Paraná para acertar com a ADAP/Galo Maringá. Quando cheguei para assinar e estava conversando com um diretor do clube, um empresário daqui de Malta ligou pedindo um zagueiro. Na hora esse diretor me perguntou se eu tinha interesse em jogar aqui. Eu aceitei e desde então jogo em Malta.

CF: E chegando aí, como foi a sua adaptação?

LR: Foi muito difícil até porque eu não sabia falar o idioma. Primeiramente vim para um período de teste, então não tinha certeza se ficaria. Ou seja, além de toda a adaptação eu tinha que provar meu valor. Dentro de campo, no começo foi complicado porque os gramados são todos artificiais. Fora, eu não sabia cozinhar e não gostava das comidas daqui. E ainda tinha o fuso horário que me fazia ficar acordado até de madrugada para falar com a família. Todo esse período de adaptação durou 6 meses.

CF: E depois de tanto tempo no país, como avalia o futebol local?

LR: Tecnicamente o futebol não é dos melhores. É de muita força e essa foi a maior dificuldade para mim. Mas fui superando isso com a minha característica de sair jogando, que não é comum aqui. Mas para isso eu tive que aprender a jogar um jogo mais tático. Essa é uma exigência do futebol europeu. A realidade aqui é bem diferente dos centros europeus, os clubes não são estruturados e não têm retorno do dinheiro que investem.

CF: Queria que você falasse sobre os torcedores. A população em Malta não chega a 1 milhão, mesmo assim os clubes têm torcidas?

LR: Eles são totalmente fanáticos, porém nenhum clube tem um grande número de torcedores, como no Brasil. Teve época aqui que não dava para ir ao mercado que os torcedores pediam para tirar foto e autógrafo.

CF: E o campeonato é equilibrado?

LR: Na verdade não é tão equilibrado, são sempre 4 equipes que disputam o título. Em 5 anos no país, sempre uma dessas foi a vencedora. Mas, como não estou em nenhuma dessas, espero que a história nessa temporada seja diferente.

Após ser bicampeão nacional, Lucas Ramon chegou ao
Vittoriosa Stars em janeiro de 2012/Foto: Arquivo Pessoal
CF: Quando decidiu que jogaria em Malta, não temeu ficar esquecido e perder oportunidades em equipes brasileiras?

LR: Quando vim para Malta estava desempregado e precisando de uma oportunidade. Eu acabei me iludindo porque sempre gostei de desafios e achava que estando em Malta, perto das grandes potências, e me destacando, eu poderia conseguir uma chance em uma grande equipe. Mas a realidade não é bem assim. Não é impossível, mas acredito que chegar a um clube grande da Europa atuando no Brasil seja mais fácil. Eu vim para cá com um objetivo, mas as coisas aconteceram de outra forma.

CF: A renda per capita em Malta é de cerca de 20 mil doláres. Isso vale também para o futebol? É bom, financeiramente falando, jogar em Malta?

LR: Hoje tenho uma vida estável com as minhas coisas. Aqui não se ganha tão bem para ficar milionário como outros jogadores em países do centro. Mas é de onde vem o sustento para a minha família e eu recebo em dia. Então, não posso ficar reclamando.

CF: Depois de tanto tempo no futebol maltês e já identificado com os torcedores, não pensou em se naturalizar, até mesmo por ter características diferentes das dos zagueiros malteses?

LR: Pensar eu pensei e continuo pensando até hoje. Infelizmente os malteses não têm uma mentalidade profissional no futebol. Existe politicagem por trás de tudo que impedem eles de quererem naturalizar. Apesar disso, já tiveram vários rumores sobre o interesse na minha naturalização. Porém nunca fizeram o convite. Eu espero que isso possa acontecer, pois seria uma grande passo na minha carreira e acredito que assim poderia ter uma visibilidade bem maior, tendo possibilidade de então chegar a um clube que ofereça condições melhores.

CF: O futebol ainda é amador?

LR: O futebol é semi profissional e dificilmente vai se tornar totalmente profissional, embora eu tenha notado algumas melhoras nesse tempo que estou aqui.Todos os estrangeiros que vêm para Malta são profissionais e vivem exclusivamente do futebol. A maioria dos malteses exercem outra função. E é dessa função que vem o sustento deles. Mas existem também aqueles jogadores malteses que atuam fora do país.

CF: Jogar em Malta é vantajoso para os brasileiros?

LR: Olha, depende muito da situação e da condição do atleta. Na minha opinião é melhor estar aqui do que desempregado. Depende muito da posição do jogador. Por exemplo, atacante sempre é mais prevalecido. Indiquei um amigo, o Camilo Sanvezzo, que não tinha nada na carreira como jogador, nunca tinha ganhado dinheiro com o futebol. Ele veio para cá, foi o artilheiro do campeonato e daqui foi para a Coreia do Sul. Depois foi para o Canadá, onde hoje é muito bem pago e é artilheiro da MLS a frente do Henry. Acredito que se o jogador vier vai ter a oportunidade de conhecer um outro país, outra cultura, adquirir experiência, aprender outro idioma. Mas, se ele tiver outra proposta financeiramente boa, não compensa vir para cá.

CF: O que aprendeu nesse tempo convivendo com um cultura totalmente diferente da brasileira?

LR: Aprendi uma coisa importante como o respeito às leis de um país. Aqui a criminalidade é zero, são casos isolados, de vez em quando acontece algo violento. Acredito que isso acontece raramente porque as pessoas sabem que vão pagar pelo que fazem. Não tem impunidade. Agora eu estranhei um pouco a culinária, como falei antes. Eles gostam de comer caramujos, mas são aqueles que costumamos dizer no Brasil que dá barriga d´água. Gostam de comer também carne de cavalo e coelho.

CF: Queria que você contasse alguma história que tenha te marcado nesses 5 anos.

LR: Bom, tem algumas histórias legais. Um dia estava com a minha esposa e dois amigos no carro e do nada começaram a fechar a rua. Descemos para ver o que estava acontecendo e descobrimos que era a polícia que estava fechando a rua porque o Papa iria passar bem ali do nosso lado com seu batmóvel (risos). Tivemos a oportunidade de ver o Papa de perto. Uma outra história que aconteceu comigo e essa sem dúvida foi a mais importante da minha carreira, foi quando eu fui nomeado o melhor zagueiro do campeonato nacional. Eu estava muito apreensivo, já que haviam dois outros zagueiros muito bons concorrendo. Quando chamaram meu nome foi uma emoção muito grande receber o troféu. Sensação indescritível.

CF: Além da família, do que sente mais falta do Brasil e o que costuma fazer no tempo livre?

LR: Além da família sinto falta dos amigos e das delícias do Brasil, como um bom churrasco, pastel de feiram, caldo de cana e várias outras. No meu tempo livre tento curtir minha esposa e meu filho, além de jogar video game, assistir filmes e passear.

Entrevista realizada em 4/09/2013, pela internet.
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Entrevista: Pedro Henrique Konzen

Konzen chegou ao FC Zurich após se
destacar no Caxias/ Foto: Arquivo Pessoal
Camisa 10. Talvez a preferida dos boleiros. Em qualquer lugar que se vê, chama atenção. Ainda mais se quem estiver vestindo for um brasileiro. Espera-se um toque genial que deixa o companheiro em condições de marcar, uma jogada criativa e a liderança dentro de campo. E é na Suíça, futebol que vem surpreendendo recentemente com vitórias sobre Espanha e Brasil, mais especificamente no FC Zurich, que um deles se encontra: Pedro Henrique Konzen. O jogador passou pela base do Grêmio, subiu aos profissionais do Caxias em 2010 e chegou ao FC Zurich no início de 2012. Com um ano e meio de clube, já marcou gol no principal clássico do país, contra o Basel e é titular na armação das jogadas. Abaixo você confere a entrevista exclusiva que o jogador deu ao blog do Caio Fiusa onde, entre outras coisas, ele revela as dificuldades na Suíça, qualifica o futebol local como emergente e opina sobre o estilo de jogo defensivo praticado pela seleção do país, que não agrada a muitos brasileiros.

Caio Fiusa: Como surgiu o interesse do Zurich FC?

Pedro Henrique Konzen: Um ex-jogador brasileiro que atuou no Zurich me indicou para o treinador.
Fíz um bom Gauchão em 2011 pelo Caxias e eles ficaram me acompanhando ao longo do ano. Em janeiro de 2012 concretizaram a minha contratação.

CF: E o que você sabia sobre a Suíça e o campeonato local?

PHK: Sabia pouco a respeito. Cheguei sem conhecer ninguém. Conhecia o Basel e o Zurich porque vi algumas vezes em competições europeias. Sobre o país, conhecia os Alpes, os chocolates, os bancos e a qualidade de vida. O idioma alemão, só tive conhecimento quando cheguei.

CF: Como foi sua adaptação? Qual foi a maior dificuldade?

PHK: A adaptação em campo não foi muito difícil, pois cheguei e logo fui atuando nas partidas por 90 minutos. Como cheguei em janeiro, no inverno, o frio foi uma dificuldade. Logo depois minha mulher veio e aos poucos a gente foi se virando com a língua. A culinária aqui também não teve grandes problemas, tem muita influencia do cardápio italiano que também existe em muitos lugares no Brasil. A cultura alemã é forte aqui e tem muitos imigrantes de países da antiga Iugolásvia. É um país rico, muito caro de se viver, mas com muita qualidade também. 

CF: Como é a relação dos suíços com os estrangeiros?
         Capa de jornal, o meia considera o futebol suíço
          parecido com o alemão/ Foto: Arquivo Pessoal

PHK: Eles tratam os estrangeiros muito bem. São sérios, mas conversando são pessoas simpáticas e gostam muito de futebol.

CF: Na Europa, a gente tem acompanhado alguns casos de racismo. Isso acontece na  Suíça?

PHK: Não, todos tem uma relação muito respeitosa. 

CF: Como é o estilo de jogo aí? 

PHK: O futebol é muito parecido com o alemão também. É rápido e de muito força. Com a técnica dos estrangeiros a liga vem crescendo a cada ano. No Brasil se joga um futebol mais habilidoso, é menos exigente taticamente em relação a Europa como um todo.

CF: O nível técnico ainda fica muito atrás dos principais centros, mas você acredita que já possa a ser comparado com os campeonatos de Portugal, Holanda, Ucrânia, por exemplo?

PHK: Ainda fica atrás de Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha, mas acredito que se nivela com os campeonatos de outros países, até mesmo com equipes que têm um poderio financeiro maior. Penso que com a evolução do futebol aqui, pode-se sonhar mais alto ali na frente.

CF: A seleção suíça venceu o Brasil recentemente por 1x0, venceu também a Espanha na Copa de 2010, pelo mesmo placar. A equipe sub-17 foi campeã mundial. Apesar disso, há ainda quem critique o estilo de jogo suíço, chamado até mesmo de ''ferrolho''. O que você acha do futebol praticado pela seleção e acredita que possa ser um adversário difícil em 2014?

PHK: Eu vejo isso como uma qualidade deles e que com um pouco de agressividade ofensiva podem ser sim uma equipe que incomode. 

CF: E falando sobre seleção, já pensou sobre se naturalizar e jogar pela Suíça?

PHK: Não, nunca pensei. O dia de amanhã a gente não sabe. Sonho com a seleção brasileira, mas se um dia surgir a possibilidade de naturalizar, sinceramente não sei o que vou fazer.

CF: Como é a relação com o torcedor?

PHK: Os torcedores são muito apaixonados. Por ser um país pequeno, viajam bastante com a equipe. A rivalidade maior é entre Basel e Zurich, mas rola uma clima bacana na partida. Tive o prazer de fazer boas partidas e até marcar um gol. Após um ano e meio aqui, muitas vezes me param na rua, em restaurantes...

CF: Como avalia os estádios e as estruturas?

PHK: Os estádios são muito modernos, já que teve a Eurocopa em 2008. Times da terceira e quarta divisão possuem centros de treinamentos com uma boa estrutura no geral.

CF: O campeonato tem apenas 10 times. A preparação e a competitividade é diferente?

PHK: É normal, como todo campeonato europeu. Geralmente, os jogos são só nos fins de semana. No caso, jogamos duas vezes contra os adversários por turno, somando quatro vezes no geral.

CF: Na maioria dos campeonatos europeus a disputa pelo título é monopolizada por dois ou três times. Na Suíça, é equilibrado?

PHK: Sim. O Basel vem com mais força nos últimos anos, mas no geral é equilibrado.

CF: Qual ou quais são os objetivos da equipe nesta temporada?

Konzen destaca honestidade dos
clubes suíços./Foto: Arquivo Pessoal
PHK: Estávamos concentrados na fase prelimiar da Europa League. Como não conseguimos a classificação (o Zurich foi eliminado pelo Slovan Liberec da República Tcheca, na terceira fase) estamos focados atrás do título, depois da vitória contra o Basel e o empate contra o St. Gallen.

CF: Quando não está jogando, o que costuma fazer no tempo livre?

PHK: Saio para conhecer as cidades, os Alpes, as fábricas de chocolates e os restaurantes italianos. Gosto também de ficar em casa assistindo canais de TV do Brasil e de ficar na internet matando a saudade dos amigos.

CF: Se tivesse que aconselhar algum jogador a ir para a Suíça, o que diria?

PHK: Os clubes são honestos! Tudo o que você assinar vai receber no fim do mês. É um país organizado, fácil de viver. Só aconselho a virem casados porque no inverno é bem frio (risos).

Entrevista realizada em 02/09/2013 pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Entrevista: Alberis

Zagueiro saiu de São Paulo e está desde
2009 na Suécia./ Foto: atvidabergs.se


Aos 28 anos, o zagueiro Alberis ainda é desconhecido de muitos brasileiros. Como passagens por clubes de São Paulo como Internacional de Limeira e Guarani, rumou para a Suécia em 2008. Depois de uma rápida passagem por um clube da terceira divisão chegou ao Atvidabergs FF, clube da primeira divisão local, onde se firmou e hoje é titular e referência da equipe. Abaixo você confere a entrevista exclusiva que ele deu ao blog do Caio Fiusa. Ele conta como chegou a um país até então desconhecido para ele e aponta diferenças entre o futebol sueco e o brasileiro.

Caio Fiusa: De que forma foi encontrado e contratado pelo clube?
  
Alberis: Um diretor do FC Norrkoping, também da Suécia fez contato com um amigo da minha cidade, dizendo que precisava de um zagueiro. Inicialmente, vim para esse time da terceira divisão. Fiquei apenas três meses e acertei com o Atvidabergs.

CF: Quando chegou a proposta, o que você sabia sobre o país e o futebol local?

Alberis: Eu não sabia nada. A única coisa que me passaram foi que na Europa é bom para se jogar futebol.

CF: A maioria dos jogadores brasileiros demora a se adaptar nos países europeus muito por conta do idioma, da temperatura, culinária, distância da família. E com você, como foi? E falando sobre culinária, o que destacaria dos pratos suecos?

Alberis: Tive problemas com tudo isso que você falou. Hoje estou adaptado. Eles costumam comer muita batata, peixe e salada. A comida é muito saudável.

CF: Qual o principal aprendizado dessa experiência na Suécia?

Alberis: Aqui se respeita mais as pessoas. Não tem pobreza e todos podem ter um emprego. O modo de vida aqui é muito bom.

CF: Como é a relação dos suecos com os brasileiros?

Alberis: Eles são bem tranquilos com os brasileiros e demonstram gostar muito de futebol.

CF: Qual a avaliação que você faz do futebol sueco? O nível técnico é muito inferior ao dos grandes centros?

Alberis: Sim, claro. O nível técnico do futebol não é igual o praticado na Inglaterra, Espanha, Itália...Nesses países, tem muito estrangeiros jogando e os clubes pagam bem mais. Mas o futebol sueco está melhorando, tem saído muito jogador para bons times do continente.

Para Alberis, principal virtude dos cartolas suecos
é honrar os compromissos./ Foto:Arquivo Pessoal
CF:  Eu queria que você comparasse o futebol praticado aí com o brasileiro.

Alberis: Ah, é difícil comparar. No Brasil, tem mais talentos e muitos jogadores. Na Suécia, trabalho com muita força e taticamente eles são muito disciplinados. Porém, são poucos que tem a criatividade igual a dos brasileiros.

CF: O Brasil se encaminha para receber uma Copa do Mundo e a questão dos estádios tem gerado muita polêmica. Como são os estádios suecos e a estruturas e organização dos clubes?

Alberis: Os estádios são grandes e bonitos, até os clubes da segunda divisão são bem organizados em relação a isso. Já a estrutura dos clubes da terceira para baixo não são tão boas, poucos conseguem ter uma legal. Alguns da terceira em diante são amadores ainda.

CF: O que nós podemos pegar de exemplo do futebol sueco?

Alberis: Acredito que a organização. Os diretores e presidentes sabem trabalhar, administram muito bem os clubes. Eles não assumem o compromisso de pagar o que não podem.

CF: O campeonato nacional é monopolizado? Tem muita diferença técnica entres as equipes?

Alberis: Não muita. Umas equipes são melhores, claro, porque contratam melhor, trazem estrangeiros também. Mas no geral, os grandes como o Malmo e o Helsingborgs são sempre os favoritos. Nós estamos no meio da tabela, vamos tentar ficar entre os primeiros.

CF: Hoje, o Atvidabergs é o 8°. O que falta para ficar entre os primeiros?

Alberis: Falta ganhar, aí sim podemos chegar no nosso objetivo.

CF: Se tivesse que aconselhar um jogador que pretende atuar na Suécia, o que diria?

Alberis: Eu diria para ele vir e jogar bem, porque assim as chances de jogar em um grande clube da Europa são reais.

CF: Em 2000, a Alemanha começou um forte investimento nas categorias de base e atualmente colhe os frutos. Como as categorias de base são tratadas e acha possível surgir um jogador do nível de Zlatan Ibrahimovic, já que hoje ele é o grande nome da seleção? 
Zagueiro fala com a família diariamente.
/Foto: Arquivo Pessoal

Alberis: Aqui tem as categorias de base, mas não se investe muito. Pode até surgir um bom jogador, mas é difícil falar se vai ser como ele.

CF: O que costuma fazer no tempo livre?

Alberis: Encontro e saio com os outros brasileiros, o Bruno Marinho e o Ricardo Santos, que jogam comigo. Também faço programas como golfe e boliche, por exemplo.

CF: Com que frequência fala com a sua família aqui no Brasil?

Alberis: Falo com eles todos os dias. Vou para o Brasil todo ano, a saudade é grande mas a gente supera.

Entrevista realizada em 31/08/2013, pela internet.
Críticas, dúvidas e sugestôes: fiusa.caio@gmail.com