terça-feira, 10 de setembro de 2013

Entrevista: Pedro Henrique Konzen

Konzen chegou ao FC Zurich após se
destacar no Caxias/ Foto: Arquivo Pessoal
Camisa 10. Talvez a preferida dos boleiros. Em qualquer lugar que se vê, chama atenção. Ainda mais se quem estiver vestindo for um brasileiro. Espera-se um toque genial que deixa o companheiro em condições de marcar, uma jogada criativa e a liderança dentro de campo. E é na Suíça, futebol que vem surpreendendo recentemente com vitórias sobre Espanha e Brasil, mais especificamente no FC Zurich, que um deles se encontra: Pedro Henrique Konzen. O jogador passou pela base do Grêmio, subiu aos profissionais do Caxias em 2010 e chegou ao FC Zurich no início de 2012. Com um ano e meio de clube, já marcou gol no principal clássico do país, contra o Basel e é titular na armação das jogadas. Abaixo você confere a entrevista exclusiva que o jogador deu ao blog do Caio Fiusa onde, entre outras coisas, ele revela as dificuldades na Suíça, qualifica o futebol local como emergente e opina sobre o estilo de jogo defensivo praticado pela seleção do país, que não agrada a muitos brasileiros.

Caio Fiusa: Como surgiu o interesse do Zurich FC?

Pedro Henrique Konzen: Um ex-jogador brasileiro que atuou no Zurich me indicou para o treinador.
Fíz um bom Gauchão em 2011 pelo Caxias e eles ficaram me acompanhando ao longo do ano. Em janeiro de 2012 concretizaram a minha contratação.

CF: E o que você sabia sobre a Suíça e o campeonato local?

PHK: Sabia pouco a respeito. Cheguei sem conhecer ninguém. Conhecia o Basel e o Zurich porque vi algumas vezes em competições europeias. Sobre o país, conhecia os Alpes, os chocolates, os bancos e a qualidade de vida. O idioma alemão, só tive conhecimento quando cheguei.

CF: Como foi sua adaptação? Qual foi a maior dificuldade?

PHK: A adaptação em campo não foi muito difícil, pois cheguei e logo fui atuando nas partidas por 90 minutos. Como cheguei em janeiro, no inverno, o frio foi uma dificuldade. Logo depois minha mulher veio e aos poucos a gente foi se virando com a língua. A culinária aqui também não teve grandes problemas, tem muita influencia do cardápio italiano que também existe em muitos lugares no Brasil. A cultura alemã é forte aqui e tem muitos imigrantes de países da antiga Iugolásvia. É um país rico, muito caro de se viver, mas com muita qualidade também. 

CF: Como é a relação dos suíços com os estrangeiros?
         Capa de jornal, o meia considera o futebol suíço
          parecido com o alemão/ Foto: Arquivo Pessoal

PHK: Eles tratam os estrangeiros muito bem. São sérios, mas conversando são pessoas simpáticas e gostam muito de futebol.

CF: Na Europa, a gente tem acompanhado alguns casos de racismo. Isso acontece na  Suíça?

PHK: Não, todos tem uma relação muito respeitosa. 

CF: Como é o estilo de jogo aí? 

PHK: O futebol é muito parecido com o alemão também. É rápido e de muito força. Com a técnica dos estrangeiros a liga vem crescendo a cada ano. No Brasil se joga um futebol mais habilidoso, é menos exigente taticamente em relação a Europa como um todo.

CF: O nível técnico ainda fica muito atrás dos principais centros, mas você acredita que já possa a ser comparado com os campeonatos de Portugal, Holanda, Ucrânia, por exemplo?

PHK: Ainda fica atrás de Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha, mas acredito que se nivela com os campeonatos de outros países, até mesmo com equipes que têm um poderio financeiro maior. Penso que com a evolução do futebol aqui, pode-se sonhar mais alto ali na frente.

CF: A seleção suíça venceu o Brasil recentemente por 1x0, venceu também a Espanha na Copa de 2010, pelo mesmo placar. A equipe sub-17 foi campeã mundial. Apesar disso, há ainda quem critique o estilo de jogo suíço, chamado até mesmo de ''ferrolho''. O que você acha do futebol praticado pela seleção e acredita que possa ser um adversário difícil em 2014?

PHK: Eu vejo isso como uma qualidade deles e que com um pouco de agressividade ofensiva podem ser sim uma equipe que incomode. 

CF: E falando sobre seleção, já pensou sobre se naturalizar e jogar pela Suíça?

PHK: Não, nunca pensei. O dia de amanhã a gente não sabe. Sonho com a seleção brasileira, mas se um dia surgir a possibilidade de naturalizar, sinceramente não sei o que vou fazer.

CF: Como é a relação com o torcedor?

PHK: Os torcedores são muito apaixonados. Por ser um país pequeno, viajam bastante com a equipe. A rivalidade maior é entre Basel e Zurich, mas rola uma clima bacana na partida. Tive o prazer de fazer boas partidas e até marcar um gol. Após um ano e meio aqui, muitas vezes me param na rua, em restaurantes...

CF: Como avalia os estádios e as estruturas?

PHK: Os estádios são muito modernos, já que teve a Eurocopa em 2008. Times da terceira e quarta divisão possuem centros de treinamentos com uma boa estrutura no geral.

CF: O campeonato tem apenas 10 times. A preparação e a competitividade é diferente?

PHK: É normal, como todo campeonato europeu. Geralmente, os jogos são só nos fins de semana. No caso, jogamos duas vezes contra os adversários por turno, somando quatro vezes no geral.

CF: Na maioria dos campeonatos europeus a disputa pelo título é monopolizada por dois ou três times. Na Suíça, é equilibrado?

PHK: Sim. O Basel vem com mais força nos últimos anos, mas no geral é equilibrado.

CF: Qual ou quais são os objetivos da equipe nesta temporada?

Konzen destaca honestidade dos
clubes suíços./Foto: Arquivo Pessoal
PHK: Estávamos concentrados na fase prelimiar da Europa League. Como não conseguimos a classificação (o Zurich foi eliminado pelo Slovan Liberec da República Tcheca, na terceira fase) estamos focados atrás do título, depois da vitória contra o Basel e o empate contra o St. Gallen.

CF: Quando não está jogando, o que costuma fazer no tempo livre?

PHK: Saio para conhecer as cidades, os Alpes, as fábricas de chocolates e os restaurantes italianos. Gosto também de ficar em casa assistindo canais de TV do Brasil e de ficar na internet matando a saudade dos amigos.

CF: Se tivesse que aconselhar algum jogador a ir para a Suíça, o que diria?

PHK: Os clubes são honestos! Tudo o que você assinar vai receber no fim do mês. É um país organizado, fácil de viver. Só aconselho a virem casados porque no inverno é bem frio (risos).

Entrevista realizada em 02/09/2013 pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com

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