![]() |
Tom Gilio destaca sua versatilidade como fundamental para o sucesso na Bulgária./Foto: lokomotiv.hit.bg |
Continuando a série de entrevistas com jogadores brasileiros espalhados ao redor do mundo, o blog do Caio Fiusa desembarca na Bulgária. É lá que Tom Gilio, volante de 27 anos, joga desde 2008. Após passagens pelas categorias de base do São Paulo e Palmeiras, Tom foi revelado pelo Botafogo de Ribeirão Preto. Há cinco anos no país europeu, o jogador já autou pelo Lokomotiv Plovdiv, Minyor Pernik e atualmente defende o Lokomotiv Sofia, clube da capital. Em entrevista exclusiva, o volante conta curiosidades da cultura búlgara e do futebol local. Além disso, ele revela momentos obscuros do futebol como a violência e o preconceito.
Caio Fiusa: Quando chegou ao país teve muitos problemas na adaptação? Os búlgaros têm algum hábito curioso?
Tom Gilio: Não
tive problema não. Só senti muita falta do arroz e feijão. Mas de resto
é tranquilo. A comida aqui é a base de frango, porco e batata. Eles têm
a tradição de comer salada e tomar ''pinga'' com gelo antes do prato
principal.
CF: Porque acha que está há tanto tempo no país? Quais são suas principais características dentro de campo que o fazem ser reconhecido?
TG: Sou um segundo volante que sai para o jogo, mas já atuei até como atacante. Tenho facilidade de jogar em outras posições. O jogador brasileiro no geral tem essa facilidade, ainda mais se for do meio para frente. O futebol brasileiro é muito mais técnico e em um nível bem superior. Aqui é muita correria e força física.
CF: Há cinco anos no país e na terceira equipe búlgara, como você avalia o futebol local? É vantajoso financeiramente, por exemplo, para os brasileiros?
TG: A diferença entre as estruturas dos clubes é grande, em questão de estádio, campo para treinos e salário. Financeiramente depende porque o Brasil está em um momento muito bom, perde para poucos países nesse quesito. De 5 anos para cá, evoluiu muito. O futebol búlgaro é bom para estrangeiros porque eles são mais valorizados do que os que nasceram aqui. Mas já rolou preconceito por parte dos jogadores búlgaros por conta disso. Mas eu recomendo mais como uma porta de entrada para a Europa.
CF: Esse preconceito é somente com ofensas ou chega a agressões?
TG: Não chega a agressão, mas rola muita coisa na base da trairagem. É mais pelas costas porque os búlgaros são pipoqueiros. Eles não falam na cara. Acontece racismo mesmo, chamam de ''macaco'' e tudo. Eu como sou branco passo desapercebido e vejo isso acontecer.
CF: Essa violência se estende para as torcidas? Como é comportamento dos torcedores? São violentos?
TG:
Sim, bastante. As torcidas marcam brigas pela internet, uns 50 contra
50 e o pau come. Uma vez pelo Lokomotiv Plovdiv, a torcida do rival, o
Botev Plovdiv, queria me pegar em um supermercado. Mas não chegou a ter
agressões, só xingamentos. Até agora foi a situação mais tensa que vivi.
CF: Fora isso, os torcedores acompanham seus clubes? Costumam ir aos jogos fora de casa?
TG: Depende do clube. Não são todos que têm torcida. Mas em geral acompanham até porque o país é pequeno, são 600 km de uma ponta a outra. As cidades são próximas.
![]() |
Sem apoio do antigo empresário, o jogador diz que volta ao Brasil é complicada./ Foto: Arquivo Pessoal |
CF:
Ainda sobre esse assunto, o Brasil passa por um fervor em torno da
seleção muito pela mudança de postura com o Felipão no comando, a
proximidade com a Copa e o título da Copa das Confederações. Na
Bulgária, há essa paixão pela seleção? E existe algum jogador que seja a
referência para o povo?
TG: Antes sim. Está voltando porque a Bulgária tem chances de ir para a repescagem das Eliminatórias da Copa. Sobre o jogador, é o Stoichkov sem dúvidas. O Berbatov não quis jogar mais pela seleção e isso deu uma queimada nele.
CF: E o time atual tem alguma grande estrela?
TG:
É mais o conjunto. O treinador Lyuboslav Penev é a estrela do momento.
Ele arrumou o time só com a garotada, o mais velho deve ter 27 anos.
CF: Já são cinco anos fora; tem vontade de voltar para o Brasil?
TG: Tenho muita vontade, mas sem empresário fica difícil. Sai há muito tempo e ninguém me conhece mais. Preciso de um empresário para fazer o meio de campo. Deus sabe das coisas e se tiver que voltar, vou ficar feliz.
CF: Estar sem empresário foi uma escolha sua?
CF: Estar sem empresário foi uma escolha sua?
TG: Sim, também. Eu não estava tendo o apoio necessário da parte dele.
CF: Você mesmo disse que as pessoas no Brasil não lembram de você e todo jogador sonha em jogar pela seleção de seu país. Por conta disso e por estar há tanto tempo na Bulgária, não pensou em tentar uma naturalização para jogar pela seleção local?
TG: Se tudo der certo, em novembro pego o passaporte. Ainda não recebi, vamos depois. A seleção está fechada, difícil entrar alguém, ainda mais estrangeiro.
CF: Falando agora sobre o futuro do futebol búlgaro, recentemente a França foi pela primeira vez campeã mundial sub-20. Como anda o futebol do país em relação a novos talentos?
TG: Deixa muito a desejar, por isso não revela jogadores. Falta estrutura na base, não há estímulo para o jovem jogador.
TG: Deixa muito a desejar, por isso não revela jogadores. Falta estrutura na base, não há estímulo para o jovem jogador.
CF: Sobre a cultura búlgara, o que você aprendeu sobre a história do país? Algum ponto turístico a destacar? O que um turista brasileiro precisa saber e conhecer?
TG: A Bulgária é um país de muita história. Plovdiv é uma das cidades mais antigas da Europa. Algumas cidades búlgaras têm mais de 3 mil anos e estão preservadas. A cultura é muito rica. A Bulgária gira em torno da capital Sófia, mas no verão o litoral recebe muitos turistas de outros países por ser bonito e de baixo custo. Isso acontece porque a moeda, a lev, é o equivalente a 2 euros. Além disso, o custo de vida também é baixo. E eu destacaria os museus de Sófia e as estações de esqui no inverno.
TG: A Bulgária é um país de muita história. Plovdiv é uma das cidades mais antigas da Europa. Algumas cidades búlgaras têm mais de 3 mil anos e estão preservadas. A cultura é muito rica. A Bulgária gira em torno da capital Sófia, mas no verão o litoral recebe muitos turistas de outros países por ser bonito e de baixo custo. Isso acontece porque a moeda, a lev, é o equivalente a 2 euros. Além disso, o custo de vida também é baixo. E eu destacaria os museus de Sófia e as estações de esqui no inverno.
CF: E durante todo esse tempo quais foram os momentos mais marcantes, que você destacaria dentro e fora de campo?
TG: No futebol foi o gol que fiz no clássico Lokomotiv Plovdiv x Botev Plovdiv. O estádio estava lotado e eu tinha acabado de chegar ao clube. Teve o gol da semana retrasada (veja o vídeo ao lado) também que foi o mais bonito da minha carreira. Na vida foi o fato de ter vindo sozinho para um país bem diferente e sem falar inglês. Tive que me virar e a questão do inverno também. Já peguei 27 graus negativos.
CF: Sobre o seu futuro, quais são seus planos?
TG: Quero sair para um time melhor, fazer meu pé de meia e ficar tranquilo depois do futebol.
Entrevista realizada em 12/09/2013, pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com
Entrevista realizada em 12/09/2013, pela internet
Críticas, dúvidas e sugestões: fiusa.caio@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário